Reflexões sobre o apocalipse zumbi e o inacabamento humano…

Conheço pessoas que se preparam para o apocalipse zumbi! Pesquisam e fazem anotações para se aparelharem pro momento em que o planeta todo for tomado por algum tipo de maldição ou vírus e as pessoas comecem a se tornar zumbis, tal como ocorre nos filmes. Essas pessoas estudam o tema em sites, lêem textos de conhecedores do objeto, assistem séries de TV sobre o tema e sabem exatamente como agir em uma situação como esta. São uma espécie de especialistas em zumbis, algo como um grupo de elite, com capacidade de liderar as pessoas comuns e com muito mais chances de sobreviver caso isso ocorra!

Conheço também pessoas que acreditam em ET’s! Bom, essas são mais comuns do que se imagina, não é! Na verdade o século XX nos deu esses crentes em seres do outro mundo, aos milhões. Eles nem chegam a ser estranhos ou considerados loucos hoje em dia. Como os próprios ET’s podem estar em qualquer lugar, disfarçados de pessoas “comuns”, convivendo conosco, enquanto esperam o grande momento em que os seres de outras galáxias e planetas vão chegar e dominar a terra. Muitos esperam isso com desejo, na expectativa de um mundo melhor, outros com temor, crentes na crueldade dos seres extraterrestres. Seja como for, todos esperam, todos estão de olhos abertos para o céu.

Tenho amigos que se sentem felizes em cuidar de plantas, em olhar a casa e querer arrumar tudo. São espécies de arquitetos/engenheiros por natureza, sem formação acadêmica. Olham uma casa e já começam a imaginar o que seria melhor nela, se deveria ter uma piscina, se deveria ter uma churrasqueira, se o teto está bom, se uma janela ficaria boa aqui ou ali, se o quintal deveria ser assim ou assado, etc. São felizes nesta atividade! Trabalham em coisas importantes para o mundo: são engenheiros, professores, médicos, pessoas que cumprem o seu dever, mas que se divertem mesmo com as coisas mais comuns do cotidiano, do lar, da casa! Algo que poderia ser considerado banal e sem importância é o que lhes dá prazer!

Eu mesmo não me considero lá uma pessoa muito “normal”! Se pudesse passaria a vida tentando fazer o meu próprio queijo, o meu próprio vinho e cachaça e o meu próprio azeite de oliva. Tudo plantado, criado e produzido por mim mesmo, com minhas próprias mãos. Ou ficaria a vida toda escrevendo livros do tipo: “Manual prático de cafuné”, “Como fabricar seu próprio tomate-seco” ou ainda “Como conseguir transformar qualquer piada boa em algo sem graça: história baseada em fatos reais!”. Isso me daria prazer, com me dá hoje o ato da distração, de contar ondas, por exemplo, ou qualquer outra coisa do tipo. Ou seja, em resumo, todo mundo é meio maluco. Bom, mas isso todo mundo já sabe também. Não é novidade pra ninguém!

Mas talvez o que todo mundo não saiba é que isso que é o legal da existência neste planeta – e talvez até em outros planetas ou mesmo no mundo dos zumbis: a capacidade que temos de criar coisas, de fazer coisas diferentes, por mais aparentemente inúteis que possam parecer. Em verdade é isso que nos faz mulheres e homens, seres de criação, de imaginação, de pensamento, de sensibilidade para imaginar.

Isso me lembrou uma vez um livro que li de Leonardo Boff, quando ele falava de nossa condição de ser inacabado! O que poderia parecer algo ruim, sermos inacabados, na verdade era colocado pelo teólogo como algo extremamente positivo: por sermos inacabados é que somos um eterno fazer-se, um eterno realizar-se, constitui-se. Nada nos é terminado, definitivo, realizado. Tudo estamos por fazer, tudo estamos fazendo, tudo estamos criando e imaginando. Tudo!

Quando vejo, por exemplo, um lider religioso besta qualquer, falando que o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é um pecado e vai terminar com a raça humana, pois seria uma ameaça pra humanidade, etc… só posso interpretar que esta pessoa já perdeu o que é exatamente o elemento mais essencial do ser humano: a sua condição de inacabamento; o que lhe limita por ser imperfeito e inacabado, mas que por isso mesmo lhe dá todas as possibilidades de construir coisas, imaginar alternativas, imaginar e realizar possibilidades.

O inacabado não tem um parâmetro fechado e perfeito, muito menos um limite restritivo e por isso mesmo é um ser aberto para o mundo e para todas as possibilidades das coisas que existem e também das coisas que não inventamos ainda, mas podemos inventar! Isso nós dizia Leonardo Boff.

Eu de minha parte fico com todos os loucos do mundo que amam de todas as formas possíveis, gostam de cafuné, gostam de plantar e cuidar de casas, querem produzir sua própria cachaça, se preparam pro apocalipse zumbi ou pra chegada de ET’s! Eu de minha parte fico com esses loucos e suas crenças. E fico com todos aqueles que acreditam nas possibilidades da imaginação. Prefiro-os aos chatos de galocha que não sabem o que é o amor e a felicidade e muito menos permitem que os outros vivam e sejam felizes!

Por fim só quero deixar uma coisa clara, se o apocalipse zumbi acontecer eu vou ficar do lado dos loucos que sempre acreditaram na sua possibilidade! E tenho dito!

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