Conseguiremos resgatar a função social da economia?

Deixo aqui uma dica de leitura do excelente livro Resgatar a função social da economia de Ladislau Dowbor publicado a pouco tempo pela, também excelente, Editora Elefante.

Dowbor é professor de economia da PUC de São Paulo e tem uma vasta produção no campo da economia e, particularmente, da crítica ao pensamento neoliberal e ao capitalismo rentista da fase contemporânea. Também tem um site muito interessante onde apresenta livros que discutem os temas atuais da economia, sociedade, sociedade de informação etc. Vale a pena acompanhar seu site aqui.

Sobre o livro em questão, deixo apenas alguns comentários rápidos:

1. Um livro muito atualizado com a literatura nacional e internacional sobre o tema do capitalismo em sua fase hiperfinanceirizada, de plataformas digitais, da precarização do trabalho e da ideologia neoliberal. Sua tese no livro é exatamente a de que esse capitalismo super financeirizado e de plataformas, que vive de juros e de dezenas de formas de especulação para acumulação improdutiva (sem produção de mercadorias e sem geração de empregos), é uma verdadeira metamorfose no próprio capitalismo ou uma mudança, talvez, para um outro modo de produção propriamente rentista. Nessa pegada, o autor explica os inúmeros mecanismos cada vez mais sofisticados de o rentismo dominar o cenário das finanças mundiais e de nos afetar diretamente em nosso dia a dia, mesmo que não saibamos.

2. O livro é também um manualzão (no bom sentido do termo) de como encarar a economia contemporânea, com sugestões práticas e exemplos reais de construção de uma sociedade mais includente, a partir de uma economia planejada, dirigida pelo Estado e com maior controle da sociedade, contra o rentismo selvagem do setor especulativo. Aqui também o autor está muito atualizado no tema da economia com inclusão produtiva, investimentos em políticas sociais, necessidade de investimento em infraestrutura, geração de emprego, debate sobre a política tributária, crédito, inclusão digital, democracia participativa etc. Ou seja, com esse estilo de manual, dá pra pensar questões práticas de como enfrentar o rentismo dominante, caso houvesse ou haja uma maior organização da sociedade e governos mais soberanos no que diz respeito ao interesse popular e nacional.

3. Por fim, o livro tem a proposta, como diz o título, de “resgatar a função social da economia”. Parte do princípio, portanto, que em algum momento a economia teve uma função social (possivelmente nos recentes governos do Partido do Trabalhadores) e que é possível resgatá-la para um capitalismo, digamos, mais administrado pelo Estado e sociedade. Portanto, não é uma leitura que agradará, por exemplo, o revolucionário que só está esperando para tomar o poder e socializar os meios de produção etc. e tal. Eu, particularmente, acho que aí que está o caráter mais esperançoso do livro, muito mais do que prático.

Será que esse sistema ainda poderá ser administrado do jeito que está indo? Governos de tendência reformista ou “social-democratas” ou, ainda, neodesenvolvimentistas, no Brasil e América Latina, darão conta de evitar o caos do capitalismo estruturalmente em crise? Para muitos críticos, já estaríamos ladeira abaixo, quase dobrando a curva do não retorno que nos levará à extinção enquanto civilização e, possivelmente, ao extermínio físico (sem querer ser dramático).

Bom, as questões acima o livro não busca responder. E muito menos eu.

Assim, deixo apenas a dica de leitura pois, no mínimo, é um excelente texto que consegue explicar de forma bastante simples questões às vezes muito complexas e difíceis, mas que nos atingem de forma direta em nosso dia a dia.

Leitura necessária!

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