Em breve pretendo lançar meu segundo livro de poemas, que ainda não tem nome. Depois de um tempo com este blog sem atividade, retomo-o hoje, já antecipando alguns escritos do futuro livro. Em breve mais novidades. Saravás!
O bumbo do pastor miserável, de som puído e sórdido,
Ecoa na rua triste e úmida,
De cabeças taciturnas e caídas.
Embala com timbre grave
A gravidade daquelas vidas.
Tirésias do gueto imundo,
Profeta de ratazanas e jijus – Enquanto tamuatás, piramboias e mussuns roçam suas canelas magras!
Na viela torta de chuva desesperançosa,
Meio limbo, quase um inferno morno na terra,
A miséria da desenperança fala línguas estranhas.
Desde as entranhas de homens-medo, homens-falo, homens-broxas, homens-querentes…
Negadores das dores e dos prazeres impronunciáveis,
Até mesmo nas línguas estranhas de um Yahweh qualquer:
– É Satanás!
– É sim!… É Satanás!
Bate o bumbo, dá piruetas, gira, sublima o gozo sórdido e farto, a fratura, a língua seca e trêmula,
deficiente!
– Foi Satanás! Foi… Foi Satanás!
– Satanás está à frente, ao redor, atrás!
[Foi Satanás que nos deu o gozo!]
[E foi Deus que vos deu o medo!]
O bumbo toca, a voz frita, o pulmão retorce, as carnes vibram, os paus ululam, as bucetas cospem, o corpo goza, o medo se afugenta… Deus não viu…
Mas o pastor roto, torto, curvo, de turvo pensar, gozou!
Garantiu mais um dia de sobrevida perante o medo!
O medo…
este sim, onipresente e onisciente
O verdadeiro deus dos miseráveis!