Um pequeno acordo sobre #BBB e #ForaBolsonaro

Poderíamos fazer o seguinte acordo:

O povo da esquerda que é contra o BBB, por achar que é indústria cultural, alienação, é Rede Globo, etc (e tem nisso certa razão), não assista ao programa e se concentre no #ForaBolsonaro e no #ImpeachmentBolsonaroUrgente.

E o povo da esquerda que é a favor do BBB, por considerar que o programa atinge as massas, a juventude e coloca temas importantes em pauta (e tem nisso certa razão), continua assistindo o reality show e se concentre também no #ForaBolsonaro e no #ImpeachmentBolsonaroUrgente.

Daí a gente pacifica essa parte e quando conseguirmos tirar o fascista do poder a gente volta a debater os prós e contras do BBB.

Que tal?

PS. 1: O mesmo vale para o caso do Godzilla versus o King-Kong;

PS. 2: Essa pactuação não vale para o caso da eleição da Câmara de Deputados. Os parlamentares de partidos de “esquerda” que entraram na “Frente Ampla” que está apoiando Baleia Rossi já no 1º turno, não passam de pelegos, mesmo;

PS. 3: Esse poste é apenas uma sugestão, não precisam me cancelar nem nada do tipo, caso discordem. Ok?!

#PAZ e…

#ForaBolsonaro

#ImpeachmentBolsonaroUrgente

Reflexões sobre o apocalipse zumbi e o inacabamento humano…

Conheço pessoas que se preparam para o apocalipse zumbi! Pesquisam e fazem anotações para se aparelharem pro momento em que o planeta todo for tomado por algum tipo de maldição ou vírus e as pessoas comecem a se tornar zumbis, tal como ocorre nos filmes. Essas pessoas estudam o tema em sites, lêem textos de conhecedores do objeto, assistem séries de TV sobre o tema e sabem exatamente como agir em uma situação como esta. São uma espécie de especialistas em zumbis, algo como um grupo de elite, com capacidade de liderar as pessoas comuns e com muito mais chances de sobreviver caso isso ocorra!

Conheço também pessoas que acreditam em ET’s! Bom, essas são mais comuns do que se imagina, não é! Na verdade o século XX nos deu esses crentes em seres do outro mundo, aos milhões. Eles nem chegam a ser estranhos ou considerados loucos hoje em dia. Como os próprios ET’s podem estar em qualquer lugar, disfarçados de pessoas “comuns”, convivendo conosco, enquanto esperam o grande momento em que os seres de outras galáxias e planetas vão chegar e dominar a terra. Muitos esperam isso com desejo, na expectativa de um mundo melhor, outros com temor, crentes na crueldade dos seres extraterrestres. Seja como for, todos esperam, todos estão de olhos abertos para o céu.

Tenho amigos que se sentem felizes em cuidar de plantas, em olhar a casa e querer arrumar tudo. São espécies de arquitetos/engenheiros por natureza, sem formação acadêmica. Olham uma casa e já começam a imaginar o que seria melhor nela, se deveria ter uma piscina, se deveria ter uma churrasqueira, se o teto está bom, se uma janela ficaria boa aqui ou ali, se o quintal deveria ser assim ou assado, etc. São felizes nesta atividade! Trabalham em coisas importantes para o mundo: são engenheiros, professores, médicos, pessoas que cumprem o seu dever, mas que se divertem mesmo com as coisas mais comuns do cotidiano, do lar, da casa! Algo que poderia ser considerado banal e sem importância é o que lhes dá prazer!

Eu mesmo não me considero lá uma pessoa muito “normal”! Se pudesse passaria a vida tentando fazer o meu próprio queijo, o meu próprio vinho e cachaça e o meu próprio azeite de oliva. Tudo plantado, criado e produzido por mim mesmo, com minhas próprias mãos. Ou ficaria a vida toda escrevendo livros do tipo: “Manual prático de cafuné”, “Como fabricar seu próprio tomate-seco” ou ainda “Como conseguir transformar qualquer piada boa em algo sem graça: história baseada em fatos reais!”. Isso me daria prazer, com me dá hoje o ato da distração, de contar ondas, por exemplo, ou qualquer outra coisa do tipo. Ou seja, em resumo, todo mundo é meio maluco. Bom, mas isso todo mundo já sabe também. Não é novidade pra ninguém!

Mas talvez o que todo mundo não saiba é que isso que é o legal da existência neste planeta – e talvez até em outros planetas ou mesmo no mundo dos zumbis: a capacidade que temos de criar coisas, de fazer coisas diferentes, por mais aparentemente inúteis que possam parecer. Em verdade é isso que nos faz mulheres e homens, seres de criação, de imaginação, de pensamento, de sensibilidade para imaginar.

Isso me lembrou uma vez um livro que li de Leonardo Boff, quando ele falava de nossa condição de ser inacabado! O que poderia parecer algo ruim, sermos inacabados, na verdade era colocado pelo teólogo como algo extremamente positivo: por sermos inacabados é que somos um eterno fazer-se, um eterno realizar-se, constitui-se. Nada nos é terminado, definitivo, realizado. Tudo estamos por fazer, tudo estamos fazendo, tudo estamos criando e imaginando. Tudo!

Quando vejo, por exemplo, um lider religioso besta qualquer, falando que o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é um pecado e vai terminar com a raça humana, pois seria uma ameaça pra humanidade, etc… só posso interpretar que esta pessoa já perdeu o que é exatamente o elemento mais essencial do ser humano: a sua condição de inacabamento; o que lhe limita por ser imperfeito e inacabado, mas que por isso mesmo lhe dá todas as possibilidades de construir coisas, imaginar alternativas, imaginar e realizar possibilidades.

O inacabado não tem um parâmetro fechado e perfeito, muito menos um limite restritivo e por isso mesmo é um ser aberto para o mundo e para todas as possibilidades das coisas que existem e também das coisas que não inventamos ainda, mas podemos inventar! Isso nós dizia Leonardo Boff.

Eu de minha parte fico com todos os loucos do mundo que amam de todas as formas possíveis, gostam de cafuné, gostam de plantar e cuidar de casas, querem produzir sua própria cachaça, se preparam pro apocalipse zumbi ou pra chegada de ET’s! Eu de minha parte fico com esses loucos e suas crenças. E fico com todos aqueles que acreditam nas possibilidades da imaginação. Prefiro-os aos chatos de galocha que não sabem o que é o amor e a felicidade e muito menos permitem que os outros vivam e sejam felizes!

Por fim só quero deixar uma coisa clara, se o apocalipse zumbi acontecer eu vou ficar do lado dos loucos que sempre acreditaram na sua possibilidade! E tenho dito!

O sujeito performáticos e outros poemas

Em 2018 lancei um livro de poemas intitulado Sobre morrer de infinito. Pretendo, em breve, reeditá-lo (com minha impressora caseira e meu grampeador) e colocá-lo pra circular por ai. Projeto para 2021.

Enquanto não rola, vou colocar aqui, vez por outra, alguns dos poemas do livro. Seguem dois, ambos sem título:

*******

O sujeito performático

Andava performaticamente distraído em uma rua realista.

[uma rua de um materialismo vulgar…]

O asfalto supostamente estava frio na noite escura e chuvosa.

[Supostamente o asfalto existia…]

Um sujeito oculto, sem performartizar mais que alguns segundos, sem-nomear-se-a-si-mesmo,

[talvez sem consciência performática de classe…]

– um sujeitinho de si, para si –

Sangrou o corpo-signo do ser-performático, em vermelho sangue,

E fugiu com um celular barato!

[pré-fabricado por uma criança asiática supostamente escravizada no socialismo “realmente” inexistente]

O nauseabundo corpo, antes de morrer definitivamente, ainda disse, em êxtase:

– Marx morreu! Viva o fetichismo da mercadoria!

E o poeta, que sequer havia entrado nessa história toda, resmungou:

– #ARevoluçãoNãoVaiSerPerformatizada!

*******

A todos espreita, a mais ecumênica das criaturas.

A mais perfeita certeza, num mundo de crentes e ateus!

A todos abona,

A todas engorda,

A todos cobiça.

Coabita e corrói tumescida carniça!

Perfeita certeza do agora ou do adiante.

Sussurra à orelha de odiados e amantes.

Lambe cancros.

Chupa pus,

Escarros, pigarros, linfa, glóbulos brancos e secreções

Que das virilhas escorrem aos cus!

Catarros de infinitas crianças, desde a tenra idade… liquefaz!

Secreções infindas

                                               Dos mais bizarros buracos

                                                           Chupados pelo fumo, uns cânceres provoca,

                                                                                   o tabaco!

                                                                                               Outros tantos pelo excesso

Do álcool.

O Abscesso,

Que de tua carne explode, não escolhe tema.

Ceifa em dia de sorte!

Ceifa em dia panema!

Em dia de santos,

Em feriados,

Dia nacional da bandeira, ou de outros emblemas!

O crente, que pagava direitamente o dízimo, e reprimiu a vida toda seus desejos, terá o cérebro devidamente esmagado por um ônibus, numa bela e ensolarada manhã cristã.

O cafetão mais vil, aquele que roubava orgasmos, só pra sentir prazer, morrerá de ataque cardíaco,

            Logo cedo,

                        Ao amanhecer!

És o aqui agora, ou o daqui a pouco!

És o mais temido Deus, duende, devaneio de loucos!

O desvario do desvairado!

O desvio dos desviados!

De tua foice não escapará o pastor, o padre, o rabino, a puta e o viado!

Banquete de deuses infames alimenta!

Ardes o tumor do canceroso como pimenta!

Tumefaz tumores tumescidos em doce Ambrosia de deuses sacanas!

Do cigarro cancerígeno, és a risonha bagana!

Sobre o amor entre as/os historiadores

Quando lemos eminentes historiadores refletindo sobre seu amor pela história, pelo passado, pela vida e argumentando que, tal como para os humanistas, aos historiadores deve interessar tudo aquilo que seja “humano”; não posso deixar de lembrar que pensadores de espirito humanista europeu, como Victória, Sepùlveda etc. defendiam com veemência filosófica ocidental a tese de que ameríndios eram selvagens e só poderiam ser “corrigidos” desta condição pela guerra e submissão aos valores europeus.

O humanismo, como a “ciência” moderna, foi estruturado pela episteme ocidental. O “humano” não surgiu como categoria neutra e o amor dos historiadores ao “passado humano” não é gratuito: alguém que ama tem endereço, e quem é amado tem raça, classe, gênero e localização geográfica. Ambos são uma geopolítica, um lugar de fala.
Cabe às historiadoras e historiadores se perguntarem qual “humano” amam, e por quais “outros” seu coração não bate.

Nada é neutro. Nem a ciência, nem o amor!

Lições de História Oral para historiadores/as boêmios

Certa vez estava entrevistando um boêmio do bairro do Jurunas, com 70 anos de idade, num bar no próprio bairro, junto com outro amigo historiador.

A entrevista foi longa, mais de 3 horas de histórias sobre gafieiras, boates, sedes suburbanas, escolas de samba, músicas, músicos, personalidades do mundo da política, vida noturna etc.

Como a entrevista era no bar, regada a cerveja, uma exigência feita pelo entrevistado inclusive (e sacrifício enorme para os pesquisadores em questão!), lá por volta de 3 horas de conversa todos já estavam um pouco pra lá de Bagdá. Resultado que no final o entrevistado e os entrevistadores ficaram minutos e minutos seguidos fazendo agradecimentos mútuos pela entrevista e sobre o valor daquele documento memorialístico e tal…

Depois de dizer que a gravação ia ser encerrada – dissemos por várias vezes -, falei assim:

– “Bom, vamos desligar agora [no que disse o outro pesquisador: a conversa continua informalmente ainda!]”…

E continuei:

– “Agora vamos para a parte que os historiadores do futuro não ficarão sabendo!”.

Obviamente que o bate papo continuou ainda um bom tempo, ou várias e várias cervejas a mais.

Creio que no final de tudo isso nem os historiadores do futuro teriam possibilidade de saber o que conversamos e nem nós mesmos, pois a ressaca e a dor de cabeça do outro dia não permitiu que ficasse nada na memória, além daquilo que o gravador registrou…

Qual é a moral da história, neste caso?

Que tanto a memória quanto a história podem ser fluidas, como a cerveja. E muito mais vivas e ricas do que aquilo que é registrado.

Outras lições poderiam vir daí: a vida não cabe no Lattes, o bar não cabe no Lattes, o Lattes e o academicismo são um verdadeiro porre e, por fim, essa crônica não cabe no academicismo, nem no Lattes…

Fiquem à vontade para outras “lições da história”!

E tenho dito, mas só parcialmente registrado!