O sujeito performáticos e outros poemas

Em 2018 lancei um livro de poemas intitulado Sobre morrer de infinito. Pretendo, em breve, reeditá-lo (com minha impressora caseira e meu grampeador) e colocá-lo pra circular por ai. Projeto para 2021.

Enquanto não rola, vou colocar aqui, vez por outra, alguns dos poemas do livro. Seguem dois, ambos sem título:

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O sujeito performático

Andava performaticamente distraído em uma rua realista.

[uma rua de um materialismo vulgar…]

O asfalto supostamente estava frio na noite escura e chuvosa.

[Supostamente o asfalto existia…]

Um sujeito oculto, sem performartizar mais que alguns segundos, sem-nomear-se-a-si-mesmo,

[talvez sem consciência performática de classe…]

– um sujeitinho de si, para si –

Sangrou o corpo-signo do ser-performático, em vermelho sangue,

E fugiu com um celular barato!

[pré-fabricado por uma criança asiática supostamente escravizada no socialismo “realmente” inexistente]

O nauseabundo corpo, antes de morrer definitivamente, ainda disse, em êxtase:

– Marx morreu! Viva o fetichismo da mercadoria!

E o poeta, que sequer havia entrado nessa história toda, resmungou:

– #ARevoluçãoNãoVaiSerPerformatizada!

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A todos espreita, a mais ecumênica das criaturas.

A mais perfeita certeza, num mundo de crentes e ateus!

A todos abona,

A todas engorda,

A todos cobiça.

Coabita e corrói tumescida carniça!

Perfeita certeza do agora ou do adiante.

Sussurra à orelha de odiados e amantes.

Lambe cancros.

Chupa pus,

Escarros, pigarros, linfa, glóbulos brancos e secreções

Que das virilhas escorrem aos cus!

Catarros de infinitas crianças, desde a tenra idade… liquefaz!

Secreções infindas

                                               Dos mais bizarros buracos

                                                           Chupados pelo fumo, uns cânceres provoca,

                                                                                   o tabaco!

                                                                                               Outros tantos pelo excesso

Do álcool.

O Abscesso,

Que de tua carne explode, não escolhe tema.

Ceifa em dia de sorte!

Ceifa em dia panema!

Em dia de santos,

Em feriados,

Dia nacional da bandeira, ou de outros emblemas!

O crente, que pagava direitamente o dízimo, e reprimiu a vida toda seus desejos, terá o cérebro devidamente esmagado por um ônibus, numa bela e ensolarada manhã cristã.

O cafetão mais vil, aquele que roubava orgasmos, só pra sentir prazer, morrerá de ataque cardíaco,

            Logo cedo,

                        Ao amanhecer!

És o aqui agora, ou o daqui a pouco!

És o mais temido Deus, duende, devaneio de loucos!

O desvario do desvairado!

O desvio dos desviados!

De tua foice não escapará o pastor, o padre, o rabino, a puta e o viado!

Banquete de deuses infames alimenta!

Ardes o tumor do canceroso como pimenta!

Tumefaz tumores tumescidos em doce Ambrosia de deuses sacanas!

Do cigarro cancerígeno, és a risonha bagana!

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