O pequeno fascista

Descobriram que o Bolsonaro é, antes de tudo, um incompetente. De grande limitação intelectual, visível dificuldade de articular ideias e falas, com várias taras, traumas e inconstâncias derivadas de pulsões sexuais reprimidas. Um idiota.

Mas, antes de tudo, um incompetente!

Nunca foi um gênio do mal. Sempre foi um idiota do mal, que foi alçado ao centro do poder por um quase “acidente histórico” (o vácuo no poder dentro do Estado burguês provocado por uma crise de amplas dimensões).

Porém, um fascista de verdade, coerente com o fascismo que sempre defendeu a vida toda. Nunca blefou. Sempre foi o pior da política, sempre foi um escroto, golpista, fascista, miliciano periférico, pequeno. Mas antes de qualquer coisa, um incompetente. Um fascista e, além de tudo, um incompetente.

Parece que até mesmo alguns bolsonaristas, ou parte deles, perceberam que o Bolsonaro é um incompetente.

Mas ninguém deve comemorar tudo isso que está descrito acima, caso concorde comigo. Pelos seguintes motivos:

  • O fascista e incompetente ainda está lá. E vai continuar sedo que sempre foi: fascista e incompetente.
  • O mudo social que elevou Bolsonaro do baixo clero e o colocou na presidência ainda existe. E a elite econômica que, mesmo não o tendo como opção A, ganhou com seu governo, não vai largar o osso fácil.
  • Por fim, para todo fascista tem um fascismo. Para todo Bolsonaro, por mais incompetente que seja, existe um bolsonarismo. Mais forte ou menos incompetente, quem será e qual o poder que terá o próximo candidato a Bolsonaro da vez? Das hordas bolsonaristas alguns já até foram lançados como sucessores, tal como o tal do Zé Trovão… E o partido militar o que anda planejando?

No tempo curto da política, quem não faz leva e tudo pode acontecer. Inclusive nada. E o nada, para nós, continua sendo um deprimente cenário.

O tempo curto do golpe que não foi

Hoje se sabe que havia um golpe de fato em andamento, na madrugada do dia 6 para 7. Evitado, tudo indica, pela rapidez do STF em emparedar os generais, antes que a cena golpista tomasse conta das ruas de Brasília e a PM do DF “cedesse” voluntariamente ao caos.

Foi um quase golpe, mas mesmo assim, foi uma tentativa e não um “blefe” como alguns analistas diziam.

Isso prova algumas coisas:

  1. Que Bolsonaro não blefa, seu problema é ter ou não ter força. Agora Bolsonaro não conseguiu estabelecer um golpe, mas sua agenda é essa e seu governo, se continuar, será sempre a manutenção dessa atmosfera golpista (como sempre foi na verdade, desde o início).
  2. Bolsonaro “perdeu o timing”, mas deixou os bolsonaristas na rua, ativos, delirantes e, tudo indica, sem líder. Mostrou-se um fraco em não os guiar ao que foi prometido.
  3. Seja por sua fraqueza ou, contraditoriamente, seja por seu golpismo em potência e delírio endêmico, só há um caminho para o país: a renúncia ou impeachment e prisão do fascista!

O problema é saber o quão fracos, desorientados ou decididos do seu papel histórico estarão os outros sujeitos desse cenário:

a) A esquerda, que deveria ir pra rua imediatamente em resposta ao golpe frustrado (mas até agora nem pauta própria tem e ainda está a decidir se adere ou não à pauta da direita liberal no dia 12).

b) E o que restou do sistema formal: Parlamento, STF etc.

Estamos no tempo curto da política. Quem perder o timing perde espaço. Parece que os próximos dias serão decisivos.

#NãoTeveGolpe? Ou o “golpe está ai, só cai nele quem não o derrubar primeiro”

Não dá para comemorar o mais do mesmo! É necessário irmos mais. Hoje é 8 de setembro, não teve golpe, mas também não deixou de ter!

Vi que muitos companheiros e companheiras já levantaram a hashtag #NãoTeveGolpe para comemorar o fato de que ontem, 7 de setembro, não houve um golpe em termos clássicos, com tanques na rua, militares reprimindo a população, prisões, fechamento do STF e Congresso etc.

Me somo a esses companheiros e repito: #NãoTeveGolpe.

Mas fico com uma leve impressão que compartilho com vocês: o mais adequado seria, de fato, a hashtag #NãoTeveGolpe ou a hashtag alternativa: #UfaNãoHouveGolpe ?…

A pergunta perece ingênua e a diferença pequena, mas não é tão pequena assim.

Pois vejamos:

– Bolsonaro, mesmo estando em um momento de desgaste, perda de credibilidade em suas bases populares e até mesmo em setores da burguesia nacional, conseguiu levar milhares de pessoas para a rua;

– Bolsonaro não deu um golpe mas disse, e com certeza deve acreditar no seu próprio delírio, que começou um novo momento da história do país e que o STF não tem mais credibilidade nenhuma. Ele deu o seu recado e fez um ato político com muitas ilegalidades, mais uma vez. E continua lá;

– Muito provavelmente Bolsonaro fez todo esse reboliço em parte financiado com dinheiro público, o que em si já merecia seu afastamento (mais uma vez). E usou dinheiro privado que ainda não sabemos de onde veio. Mas o fez, mais uma vez;

– Bolsonaro parece ter conseguido dar um pouco de “gás” para suas bases populares que pareciam estar esmorecidas nos últimos meses. Dizer que teve menos gente do que o previsto não anula o fato de que teve milhares de pessoas indo à rua. Inclusive caravanas de vários estados do Brasil rumo a Brasília e mesmo atos menores em cidade pequenas do interior do Brasil, com carros-som, motociatas etc. Não se enganem com a foto que circula na rede com a imagem de Brasília e a hashtag #flopou, indicando que as manifestações teriam sido um fracasso. Podem não ter sido o grande sucesso esperado pelos fascistas, mas ainda assim apresentaram um público significativo;

– Aceitemos, Bolsonaro fez a pauta: tornou (mais uma vez) o 7 de setembro uma data da extrema direita “patriótica” e mofada. Não que essa data tenha sido em algum momento um símbolo da resistência popular, das lutas sociais etc. Mas, não nos enganemos, símbolos como a bandeira do Brasil, a “pátria” etc., são sim símbolos populares e milhares de pessoas vão todos os anos assistir os desfiles militares por gostarem da festa “cívico-militar” e por terem esses desfiles (inclusive os desfiles escolares da época) como elementos importantes das suas culturas populares. Bolsonaro usou e abusou dessa simbologia e, em boa parte, pautou a rua neste dia. [PS.: Isso não tira o mérito de quem fez o contraponto indo à rua. Na verdade valoriza mais ainda a papel de enfrentamento dos Gritos dos Excluídos e Excluídas de ontem];

– Um último ponto: para mim o golpe já está entre nós, em termos práticos e simbólicos, desde pelo menos dois momentos: 1) Em 2016, por motivos óbvios. 2) Quando o termo “golpe” passou a circular livremente na gramática política nacional (televisão, internet, rádio, falas parlamentares, falas judiciárias, falas do genocida, falas cotidianas da população etc.) sem causar horror, repulsa coletiva imediata e reação contrária imediata.

Ou seja, (mais) este ato de discurso golpista (efetivado ou não) mantém uma tendência e mantém o fato de que o governo Bolsonaro segue fazendo o que se propõe fazer, coerente consigo mesmo, fascista, delirante e autoconfiante! E segue realizando boa parte de sua pauta de destruição dos direitos e pilhagem das riquezas nacionais (que tem apoio de parte significativa da elite que mesmo não o tendo como plano A ainda o vê como necessário, até aparecer algo melhor para a direita e que possa competir com o Lula, por exemplo). E as demais “instituições”, a reboque, uma vez que até aqui, de fato, não impediram que as permanentes ameaças criminosas de um golpe continuassem.

Por isso, apesar de não ter dado um golpe de fato, Bolsonaro fez muito, muito barulho. Se ele está em um momento de maior fragilidade e perdendo forças, de um lado, segue atacando (coisa aliás que sempre fez e sempre fará) e mostrando para a direta liberal, para a esquerda em geral e para todos, que não é carta fora do baralho.

Ou vocês acham que, agora que não deu um golpe, Bolsonaro vai se acomodar e viveremos uma linda fase pós-quase-golpe, tempo do #NãoTeveGolpe e império dos memes festivos?

Em outros termos, o Bolsonaro continua lá, fazendo o que sempre fez, amaçando golpes, e isso por si só já é um fato criminoso, tenha ele realizado ou não o golpe. Com Bolsonaro, o golpe sempre esteve, sempre está e sempre estará aí, pairando no ar.

O golpe está aí, só cai nele quem não o derrubar primeiro!

Belém e sua relação desamorosa com as áreas verdes

Um fenômeno que sempre me intrigou em Belém e que acho que deveria ser estudado antropológica, sociológica e historicamente, de modo a contribuir para o poder público agir/intervir e tentar mudar:

– O desapego da população de Belém com a coisa pública, particularmente os espaços relacionados ao verde, ao meio ambiente. E o desapego da população à coisa privada relacionada também ao verde e ao meio ambiente.

No caso do desapego com a coisa pública, particularmente com áreas verdes, espaços com árvores, jardins etc. possivelmente o fato se explica pelo consumismo, privatização/patrimonialização dos espaços/serviços coletivos, elitismo e fobia de classe ao “povo” e à rua etc. Todos essas, características da sociedade brasileira, capitalista periférica, em geral: que fazem com que a classe média prefira o shopping à praça e evite a rua por causa da “criminalidade”; além de privatizar aquilo que deveria ser coletivo, por exemplo construindo calçadas privatizadas, estacionando na ciclovia, estacionando em praças, jardins e, quando vão para o veraneio, o estacionamento na areia da praia etc.

E aí entra o típico fetiche do automóvel do belenense, também um elemento do consumismo em geral, mas que pra mim é muito mais grave em Belém do que em qualquer outra cidade brasileira.

O belenense típico tem verdadeira idolatria ao seu carro, prioriza que o veículo seja estacionado a meio metro de onde o seu dono vai ficar, tanto faz que fique sobre um jardim, sobre uma ciclovia, sobre uma faixa de pedestre, sobre a vaga do cadeirante, dentro da praça onde crianças brincariam. Tanto faz! O carro tem que passear colado ao dono, quase como se fosse um cachorrinho na coleira. Não é à toa que o belenense típico detesta pagar impostos, odeia mais ainda pagar o IPTU, mas adoraria que a Prefeitura fizesse estacionamentos para seus carros em todas as ruas, calçadas, praças, etc.

Exemplos do desapego da população com os espaços verdes públicos, temos muitos:

1. Até pouquíssimo tempo a Praça do Carmo tinha virado estacionamento, todas as noites. Lembram? Foi necessário colocarem barreiras físicas para que os motorista se ligassem de que dentro da praça não poderiam estacionar;

2. A Av. 25 de setembro, com um belíssimo canteiro central com árvores, totalmente abandonado, sujo e cheio de carros estacionados;

3. O Horto Municipal, que mesmo sendo uma praça cercada, para crianças, tem uma parte interna de sua área feita de estacionamento;

4. Novos parques e praças que são construídas tendo praticamente metade da área, que poderia ser verde e de lazer, feita de estacionamento para os “clientes” automobilizados. Esse é o caso do Portal da Amazônia onde os ciclistas, skatistas, crianças, idosos e pedestres competem com os carros estacionados. E a nova praça Porto Futuro, que além de ter sido entregue à população inacabada, quase não tem arborização e tem um imenso estacionamento que é quase do tamanho da praça propriamente dita, área essa que poderia ser espaço verde de uma cidade onde o sol não brinca em serviço….

5. Outros exemplos não faltam… Basta andarmos por Belém que veremos lixo sendo jogado nos espaços verdes ainda existentes, carros estacionados por todos os lados, árvores sendo derrubadas e nenhuma sendo colocada no lugar, mangueiras sendo envenenadas para morrerem “sozinhas”, etc.

O desapego com as áreas verdes e “naturais” de Belém chega à margem do surreal. Vou dar um último exemplo:

– Certa vez estávamos no Horto Municipal com nossa filha e o funcionário estava insistentemente molhando a areia da área do parquinho com uma mangueira. Ele foi molhando tudo até que não restou quase espaço onde minha filha estava brincando, então perguntamos porque ele estava molhando a areia da parte onde as crianças brincavam. E ele disse que os frequentadores reclamavam que a areia do parquinho fazia muita poeira e incomodava as crianças; dai que ele molhava a areia do parquinha para ela ficar menos empoeirada…

Isso mesmo: a areia estava empoeirada!

Onde já se viu, em Belém, um parquinho com areia empoeirada!

Por último, o outro ponto que me deixa ainda mais intrigado em Belém é o desapego que as pessoas têm pelas áreas verdes em suas próprias casas, um espaço para jardim, por menor que seja, ou mesmo um quintal (cosia rara hoje em dia em Belém – devido à pobreza/favelização, de um lado, e à especulação imobiliária, de outro). O desapego que essas pessoas têm por essas áreas que são exclusivamente suas, que já são privadas. É impressionante vermos as pessoas cimentarem seus quintais, derrubares as árvores para “limparem” o terreno e, muitas vezes, não plantarem nem uma samambaizinha humilde para deixar verde o ambiente. Isso é algo muito comum em Belém. Já vi inúmeros “quintais” totalmente cimentados, “lajotados”, desérticos, tendo uma boa área onde poderiam existir árvores de médio e até grande porte. Mas não há nada, só cimento!

Dou mais um exemplo pessoal: minha filha já estudou em uma escolinha que tinha uma árvore no quintal/área de recreio. Tempos depois a diretora derrubou a árvore, alegando que “sujava” o ambiente e que as raízes quebravam o calçamento da área etc. Meses depois a mesma diretora fez uma coleta com os pais para construir uma cobertura na área, pois (vejam só!), ficou quente demais depois que derrubaram a árvore… Bingo!

Esse é um fenômeno interessante pois se trata da mesma cidade onde todo mundo, todo santo dia, reclama do calor infernal… Esse desapego ao verde em Belém, que claro, se explica muito pelo consumismo, elitismo, fobia das elites ao “povo” e coisa pública, patrimonialismo, fetiche do automóvel, fetiche ao shopping center e a tudo que tem vidro e ar-condicionado etc. é grave. E certamente tem explicações locais que realmente eu gostaria de entender.

Nem todas as cidades grandes têm essas características. Inclusive cidades que no imaginário social são vistas como “selvas de pedra” a população às vezes faz de tudo para manter uma pequena área verde que ainda resta. Aqui é o contrário.

Realmente eu gostaria de entender a lógica desse fenômeno, como chegamos a isso e como isso poderia ser revertido pelo menos em parte por políticas públicas.

E nós ainda estamos “cercados de verde”, como dizem por ai… “Cidade das Mangueiras”… supostamente.

Pelo menos até que se asfalte todo o Utinga, se assorie e polua todo o Cumbú, derrubem os canteiros centrais de ruas como Duque, 25, Marquês, para construção de mais vias de asfalto e se faça paisagismo com “arquitetura desértica” na Praça da República e Batista Campos…

Mas a culpa do calor infernal é do sol!

De quem mais seria?…

Amazônia: histórias, culturas e identidades

Organizei, juntamente com os colegas Telmo Araújo e Jairo Silva, da UEPA, uma coletânea de artigos sobre a história da Amazônia. Abaixo segue a apresentação do livro, escrita pelos organizadores.

O livro pode ser baixado clicando AQUI.

Boa leitura.

APRESENTAÇÃO

A coletânea que ora apresentamos é resultado das atividades do GPAM, “Grupo de Pesquisa Amazônia: História, Culturas e Identidades”, grupo em atividade desde o ano de 2016. O livro reúne trabalhos de historiadores e historiadoras que fazem parte do grupo e que atuam como docentes no curso de História da Universidade do Estado do Pará (UEPA), assim como de ex-alunos que tiveram suas pesquisas vinculadas ao referido grupo de pesquisa.

A maior parte dos textos é fruto de reflexões e debates ocorridos nos eventos sucedidos na Universidade do Estado do Pará, organizados pelo GPAM e pelo Curso de Licenciatura em História, tais como o “Seminário de História”, realizado anualmente, que em 2019 chegou à sua 5º edição. Os trabalhos apresentados mostram a diversidade de estudos existentes nas Linhas de Pesquisa do GPAM, que atualmente se subdividem em três principais campos, à saber: Culturas, cidade e trabalho; Culturas, etnias e identidades e; História, ciência e ensino.

O crescimento do interesse da historiografia sobre as múltiplas experiências sociais determinou a escolha do grupo pela área de concentração em História Social, na qual se busca problematizar lutas, disputas e contradições existentes em diferentes experiências urbanas e rurais, em vários territórios e temporalidades, no contexto amazônico. Assim, os estudos desenvolvidos pelo GPAM têm dado ênfase à diferentes perspectivas sociais, incluindo experiências e culturas nem sempre ou pouco observadas pela historiografia “tradicional”. Elegendo a História Social como área de concentração, a proposta de trabalho do grupo de pesquisa encontra subsídios para valorizar outros sujeitos históricos, reconhecendo a heterogeneidade de experiências sociais de homens e mulheres, de diferentes etnias e gerações, todo o conjunto de práticas e expectativas sobre a totalidade da vida. Buscando-se, assim, democratizar o conhecimento do passado, enfrentando os múltiplos desafios contemporâneos da pesquisa.

O campo de análise, como já expresso no termo inicial do título do GPAM, é a Amazônia, em particular a Amazônia oriental e paraense. A Amazônia é vista em sua diversidade de experiências históricas e campos de lutas sociais que se apresentam em vários âmbitos da vida social, tais como as dimensões da cultura, das culturas populares, etnias e racialidades, cidade e trabalho, ciência e ensino. Por consequência, os textos contidos neste livro apresentam muitas amazônias possíveis, muitas experiências de um território de muitos territórios, recortado de desigualdades e diversidades.

Desta forma, o leitor ou leitora que folhear as páginas que aqui apresentamos terá a oportunidade de conhecer a Amazônia de mulheres divorciadas, solteiras ou viúvas de Belém da primeira metade do século XIX; assim como a Amazônia das práticas terapêuticas e da intervenção do poder público em relação à varíola ou ainda da relação e tensão entre medicina homeopática e a religião espírita no Pará, nos dois últimos casos já no início do século XX. Poderá conhecer um pouco sobre a Amazônia do mundo da educação formal e de como disciplinas como física e química eram ensinadas no Instituto Lauro Sodré, em Belém, no final do século XIX e início do XX; a experiência histórica de imigrantes retratadas em processos criminais, também no início do século XX; reflexões de intelectuais sobre a identidade nacional e amazônica nas páginas de revistas semanais paraenses do século XX e também reflexões sobre os conceitos de memória e de patrimônio a partir de acervos pessoais de Vicente Salles e de Dalcídio Jurandir. A Amazônia da cultura e modos de vida de ribeirinhos da Comunidade de Igarapé Grande, em Ananindeua, ou ainda da cultura popular e musical do carimbó e de outros gêneros musicais locais e globais, também estará presente neste livro. Por fim, a Amazônia das lutas populares e sociais emerge na história de conflito da Gleba Cidepar, na região do Guamá; na organização e na luta camponesa do Baixo Tocantins ou ainda na experiência da Pastoral da Juventude e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nos bairros de periferia de Belém, na segunda metade do século XX.

Temos em mãos, portanto, uma obra com muitos olhares, muitos temas para muitos leitores e leitoras. Apresenta-se um panorama tão diverso e rico quanto a própria região que é retratada nesta coletânea de trabalhos. Desejamos que os textos a seguir configurem-se, assim, como uma porta de entrada para o conhecimento histórico sobre as múltiplas amazônias, ou ainda um reforço na produção científica já existente sobre essa região.

Boa leitura a todos e todas!

Os organizadores”.

Futuridades

O futuro talvez seja o fato mais emblemático da potência e da complexidade.

É esperança e morte, fatalidade e vida, distopia e crença, incerteza e utopia!

É o fato que ainda não houve, mas haverá.

A certeza de que todo o improvável é possível! Mesmo que nada ocorra.

Esperança que carrega até mesmo o terreno do mais absoluto niilismo. Um niilismo que nunca morre, pois sempre haverá um futuro.

É o que nos move por esperança e utopia, sem garantia de nada realizar.

É um outro agora desejado, um outro agora projetado, um outro agora que nunca será, pois o futuro só existe no depois.

Porém, a crença no futuro, que será, e por isso mesmo já o é em potência, nos move e, ao mover-nos, move o futuro para ser exatamente aquele novo e inédito, que virá a ser…

Nenhum futuro é o que teria sido, pois o futuro, tão presente, nunca é, sempre será.

O agora está, no fundo, cheio de futuridades, cheio de esperança de futuro.

O futuro já está fertilizando nossas agoridades. O agora está prenhe de futuro.

E o futuro está, de fato, cheio de agoridades, cheio de querências de agoras melhores, cheio de restos de agoras que insistem em sobreviver, enquanto o novo, que tudo inaugura, insiste em nascer.

A esperança não é vã: é um fato!

É tão factual e concreta quanto o futuro, que esperançamos e que virá…

A esperança é um futuro super-agorizado. Um futuro preso nas grades sólidas e cruéis do hiper-agora, mas desejoso de fugir, desejoso do devir, desejoso do que virá: o seu outro eu, a se inaugurar.

A esperança sabe que o futuro virá, para além de qualquer vontade, mas nunca imune à vontade alguma, sempre maior e diferente do que propusemos, mas nunca alheio ao devir humano!

A História não acaba… a esperança expecta e é práxis e o futuro dirá.

Esses canalhas querem nos matar!

Esses pulhas querem nos matar!

Esses canalhas, esses cruéis, esses patifes, querem nos matar!

E não é de hoje. É desde sempre! Desde há muito tempo eles querem nos eliminar!

Esses covardes, detentores do poder metálico e de armas de destruição em massa… eles querem nos matar.

Querem matar qualquer fagulha da felicidade do povo.

Do povo livre e com trabalho.

Do povo livre e com comida na mesa.

Qualquer fagulha da dignidade das mães e pais e das crianças populares, indígenas e negras.

Esses canalhas, banqueiros, investidores da bolsa de valores, querem nos matar! Milionários da improdutividade!

Esses pulhas, esses pastores milionários, detentores de impérios midiáticos, fábricas de dízimos, que tiram o pouco que o pobre já não tem em sua mesa… Eles querem nos prostar! Querem nos consumir, querem nos foder!

Esses jornalistas, apresentadores, detentores dos meios de comunicação hegemônicos, seja a televisão ou a internet; esses que espetacularizam a moeção de carne pobre, indígena e preta, de mulheres e pessoas LGBTQIA+… Esses ordinários, eles querem nos moer! Eles querem nos colocar na máquina como combustível da farsa!

Esses latifundiários, donos da terra que nem a deus pertence, senhores do agronegócio que destrói as florestas e envenena os povos; que tomaram os bosques dos povos originários, dos quilombolas, dos sitiantes, dos ribeirinhos, dos pequenos e pequenas produtores, dos camponeses e camponesas… esses escrotos! Eles querem nos enterrar sob palmos rasos de terra empobrecida e envenenada.

Eles querem nos esfolar!

Esses homens ricos e nojentos. Esses homens obesos, brancos, jactanciosos, sebosos… prostituidores de meninas pobres em todos os recantos do mundo. Esses que acreditam que são o exemplo do “bom pai”, do “bom marido” e do proprietário; o exemplo de “cidadão de bem”, “bem sucedidos”, “empreendedores”, “geradores de empregos”, cultuadores da propriedade privada, adoradores do Deus McMercado… Esses que bajulam o Deus (sic) vingativo e castrador; que lutam para sublimar suas carências e suas taras reprimidas… Esses sujeitos que contam as pilhas do vil metal; que não sabem se rezam para deus ou para Bolsa de Valores; que não sabem se constroem um tempo ou uma empresa de fachada no Panamá; que contam tanto metal, mas tanto metal, que não seriam capazes de gastá-lo durante uma vida humana…

Esses canalhas, esses pulhas, eles querem nos esfolar!

Eles querem nos moer.

Eles querem nos trucidar!

Eles querem nos deitar ao chão, nos submeter! Mas não vão conseguir!

E não é de hoje que eles querem fazer isso conosco. Eles pessoalmente fariam isso. Se não houvesse os pulhas dos pulhas, os sujeitos abjetos que fazem o serviço sujo, que são o chorume, ou são os filhotes da última ditadura do mundo subdesenvolvido.

Eles mesmos fariam, com suas próprias mãos, se não houvesse esses generais borra-botas, esses “patriotas” que aprenderam o conceito de pátria na “Escola das Américas”, em Fort Benning e em Fort Leavenworth. Esses generais ignorantes, que se orgulham das violências que praticaram no Paraguai, no Haiti e contra seu próprio povo, inúmeras vezes, tendo 1964 e 1968 apenas como exemplos de toda uma longa história de barbárie.

Esses generais obscuros, de turvo pensar, rotos, brutalizados, bestializados, obtusos e néscios; que basicamente vivem como parasitas da coisa pública, ganhando milhares de dinheiros, fruto do trabalho da maior parte do povo.  Cúpula da choldra que alimenta sua masculinidade precária nas rodas de “oficiais” decadentes e inúteis, pagos por nossos impostos,  de carne carcomida e feios; mais os suboficiais aspirantes dessa decadência, que mandam pobres soldados, tão pobres de tão índios, de tanto negros, de tão desesperançados e sem opções, capinarem o quintal dos quarteis e pintarem as calçadas de cal!

Escravocratas! Demagogos vis! Choldra!  

Eles querem nos matar!

Eles quererem matar seus soldados, na morte dos seus iguais!

Mas não vão conseguir!

Pois não é de hoje que querem nos matar, e nos mataram e matam muitos de nós, mas sobrevivemos!

1964 inaugurou uma ditadura autoritária, raivosa e assassina que perseguiu a todos e todas que se opunham. Matou e torturou crianças, jovens e adultos, cortou direitos e enriqueceu mais ainda os poderosos, apoiados que estavam nos seus cães de guardas fardados!

Esses pulhas querem nos matar! E uma forma de nos matar também é reescrever a história de forma mentirosa, como farsa.

Bolsorano, os setores do Partido Militar que ainda o apoiam, a elite econômica predadora, são todos filhos e país da última ditadura, e vivem muito bem em qualquer ditadura que mantenha seus lucros!

Contra isso só a organização popular, a reflexão crítica sobre o passado, sobre o presente e a perspectiva de futuro igualitária para todos.

Precisamos “estar atentos e fortes” e não aceitaremos a reescrita da história como falácia: golpe é golpe, violência é violência, tortura é tortura.

Não permitiremos mais nenhum tipo de morte!

Fora Bolsonaro genocida e golpista e todos os seus apoiadores militares e milicianos tão golpistas quanto ele!

#DitaduraNuncaMais

#ForaBolsonaro

Epistemologia das margens, pensamento crítico e descolonização de narrativas nas Amazônias

Um convite político-acadêmcio às companheiras/os da História e áreas afins que estudam e/ou vivem/lutam na/pela grande panície:

Simpósio Temático coordenado pelo colega Amarildo Ferreira Júnior (IFRR) e por mim (UEPA), que vai acontecer no 31º Simpósio Nacional de História, entre 19 a 23 de julho de 2021.

Segue o resumo do ST e depois o link para informações e inscrições:

Resumo:

Este Simpósio Temático pretende reunir trabalhos que discutam em perspectiva crítica as narrativas históricas, artístico-culturais e o pensamento social sobre as Amazônias nacionais e transnacionais. Por perspectiva crítica entendemos os debates surgidos em torno de um conjunto heterogêneo de epistemologias que aqui definimos como “divergentes” ou “radicais”. Tais epistemologias constituem-se como saberes/poderes anti-hegemônicos, que se pretendem anticoloniais, não eurocêntricos e críticos à ocidentalização como dominação, assim como críticos aos padrões convencionais de saber/poder assentados na heteronormatividade excludente, nos variados tipos de racismo e xenofobia, no patriarcado, nas hierarquias de classe e status e na destruição predadora do meio ambiente e dos sujeitos e sujeitas da floresta, rios e cidades das Amazônias.
Parte-se do princípio de que a reflexão histórica crítica, mais que estrita reflexão epistêmica ou acadêmica, é fundamentalmente uma posição, uma práxis, ou ainda, um engajamento consciente e ativista, no sentido de construir ciência/saberes/poderes para a transformação social e política.
Nesse sentido, serão bem vindas reflexões histórico-antropológicas que partam da crítica ao colonialismo interno, busquem a substituição da “lógica instrumental” das ciências sociais por uma “descolonização” epistemológica e ensaiem possibilidades de estudos colaborativos, coteorização e/ou partam da “sistematização de experiências” concretas dos sujeitos e sujeitas em luta, com ênfase ao trabalho junto a grupos historicamente subalternizados.

Justificativa da relevância do tema:

Considerando as diversas e importantes contribuições que, desde as crônicas de viagem, as narrativas históricas e artístico-culturais oferecem para a constituição do pensamento social sobre as Amazônias, torna-se importante a realização de reflexões críticas acerca da construção desse arcabouço e de suas inferências e interferências sobre os heterogêneos sujeitos históricos, espaços e períodos amazônicos. Isso também implica na importância de realizar a análise acerca dos procedimentos de eleição e seleção dos elementos histórico-culturais manuseados, da contribuição dessas produções na elaboração de imagens e narrativas e de sua participação na invenção histórico-cultural dessa região. No entanto, tal análise não deve somente buscar a compreensão a respeito das Amazônias, seja em suas concepções nacionais, seja em sua constituição transnacional, mas necessita engajar-se na apresentação de alternativas de transformação social e política. Com isso, justifica-se a relevância do debate histórico e historiográfico que este Simpósio Temático propõe estabelecer e sua tomada de posição pela busca de possibilidades de estudos colaborativos engajados nos esforços de descolonização epistemológica por meio de sistematizações de experiências e movimentos de coteorização que propiciem encontros epistêmicos e produção de interconhecimentos junto a grupos historicamente subalternizados, o que contribui com elaborações que partam da práxis como conexão incontornável entre reflexão teórica/acadêmica e o engajamento/intervenção nos territórios das lutas nas Amazônias contemporâneas e na crítica do pensamento social sobre/na região.

Para acessar o evento, clique aqui: Simpósio Nacional de História 2021

A elite que quase foi moderna…

A elite culta de Belém, tão culta quanto quase rica, pra variar, retoma o mito/carência da “modernidade” da Urbi. Seja em Landi, seja em Lemos ou em outras “chaves” arquitetônicas mais contemporâneas.

É o mesmo mito da elite provinciana que várias vezes quase foi moderna e vive com as lembranças de um tempo que nunca foi …

Enquanto isso, quase 70% da cidade pode ser considerada “favela”.

Civilização da baixada, das palafitas, periferia da periferia do capitalismo global, ninguém quer ser. Ou, em outra perspectiva, cidade ribeirinha, negra, a Mairi tupi, também não, né!!

Seria trágico, se não fosse cômico!

Aliás, é tragicômico!

Esperançar: ou por uma práxis revolucionária da esperança

Estava surfando na internet, mais precisamente no Facebook, e dei de cara com uma frase do pastor progressista Henrique Vieira:

Esperança. É uma exigência ética diante de uma realidade tão dura. É um impulso para criar o futuro. É uma ação coletiva para mudar a realidade. É um protesto contra toda desesperança. É uma forma de salvar o coração. É um ato de fé, uma decisão política, uma insistência na vida! Seguimos com esperança, fazendo esperança!

Obviamente que concordo totalmente com a tese de Henrique Vieira, sobretudo com as frases:

É um protesto contra toda desesperança…

É um ato de fé, uma decisão política, uma insistência na vida!…

Dai que, coincidentemente, eu estava começando a ler o livro Pedagogia da esperança de Paulo Freire. Estava literalmente nas “Primeiras palavras” da obra e filosofava sobre a tese freireana contida neste livro, mas também em livros anteriores, de que precisamos lutar com esperança e esperar ou esperançar lutando. A tese de que utopia não é devaneio abstrato, mas é combustível para ação na medida em que é ação pensada e pensamento agido e em ação, ou seja: é práxis.

É mais ou menos como se eu dissesse que para mudarmos o mundo precisamos odiar e amar, precisamos estar afetados pelo mundo e afetarmos o mundo com nossa afetação; com nossa dor, com nosso desejo, com nossa luta coletiva pela liberdade, contra a opressão. Utopia, esperança, sonho, assim, são práxis, não são independentes da ação, ao contrário, devem fazer parte da ação.

Para ficar mais claro vou citar aqui, sem buscar aprofundar “intelectualmente” demais a coisa, os fragmentos do texto de Freire, que têm muita relação com o texto de Henrique Vieira acima citado.

– Sobre a esperança como necessidade ontológica e a desesperança como o seu desvio; diz Freire:

(…) A esperança é necessidade ontológica; a desesperança, esperança que, perdendo o endereço, se torna distorção da necessidade ontológica (FREIRE, 2020, p. 14).

– Sobre a esperança ser um elemento enraizado de historicidade, não somente abstração ou teoria pura, ser esperança crítica; diz Freire:

Não sou esperançoso por pura teimosia, mas por imperativo existencial e histórico.

Não quero dizer, porém, que, porque esperançoso, atribuo à minha esperança o poder de transformar a realidade e, assim convencido, parto para o embate sem levar em consideração os dados concretos, materiais, afirmando que minha esperança basta. Minha esperança é necessária, mas não é suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem ela a luta fraqueja e titubeia. Precisamos da esperança crítica, como o peixe necessita da água despoluída. (FREIRE, 2020, p. 14  – grifos meus).

(…) O essencial, como digo mais adiante no corpo desta Pedagogia da esperança, é que ela, enquanto necessidade ontológica, precisa de ancorar-se na prática. Enquanto necessidade ontológica, a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã (FREIRE, 2020, p. 15).

– Sobre a desesperança ser um elemento desmobilizador, paralisador, que leva ao fatalismo/desesperança; diz Freire:

Como programa, a desesperança nos imobiliza e nos faz sucumbir no fatalismo em que não é possível juntar as forças indispensáveis ao embate recriador do mundo (FREIRE, 2020, p. 14).

 Sobre a desesperança ser uma distorção da esperança, fruto de uma esperança descuidada, ingênua ou desprovida de concretude/luta concreta. Diz Paulo Freire:

Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo.

(…)

Sem um mínimo de esperança não podemos sequer começar o embate, mas, sem o embate, a esperança, como necessidade ontológica, se desarvora, se desendereça e se torna desesperança que, às vezes, se alonga em trágico desespero. Daí a precisão de uma certa educação da esperança. É que ela tem uma tal importância em nossa existência, individual e social, que não devemos experimentá-la de forma errada, deixando que ela resvale para a desesperança e o desespero. Desesperança e desespero, consequência e razão de ser da inação ou do imobilismo (FREIRE, 2020, p. 15 – grifos meus).

Como eu vejo tudo isso:

Freire aqui parece difundir uma práxis revolucionária da esperança, uma vez que ela, a esperança, não está separada da vida prática, da vida vivida e da vida lutada. A esperança é um dos elementos do fazer histórico, é um ato (não só um pensamento), em uma palavra, é uma práxis, ou seja, uma intervenção no mundo. Não se trata de uma espera passiva ou de um voluntarismo ou, ainda, de uma ação impensada. É algo como uma utopia calculada e um cálculo esperançoso/utópico.

É um atrevimento de tentar o novo na medida mesmo em que o novo é inaugurado pela tentativa esperançosa de mudança.

É uma intervenção no mundo e uma convicção de intervir e mudar as coisas.

É uma ação que afeta ao mundo pois está carregada de afeto, está afetada pela dor da opressão, mas também pela expectativa de mudar as coisas, de pôr fim à dor da exploração das pessoas oprimidas e por isso se projeta para uma ação/reflexão/ação de mudança/intervenção efetiva.

Eu poderia até imaginar, a partir de Paulo Freire e de Henrique Vieira, que a esperança não só é uma condição ontológica, mas é também um direito de todos, uma vez que em condições de vida que deveriam ser normais (a ausente de opressão) todas as pessoas, por natureza, têm esperança de algo. A vida em si é uma busca esperançosa das coisas (ou, também, um religare para os religiosos, como Freire e Vieira). Ocorre uma  inseparabilidade de busca/ação de buscar/esperança e não só uma espera como espera.

Pode-se dizer que deixamos de ter esperança/busca na medida em que nos desesperamos/não-buscamos [redundância necessária] e nos tornamos fatalistas. Desacreditamos no próprio ser mais natural do humano, com diria Freire.

Não é fácil manter a esperança e a utopia de um mundo melhor quando a vida diária é tão dura e os poderosos/opressores parecem tão fortes. Mas temos o dever político e ético de tentar nos mantermos esperançosos. “Esperançosos críticos“, diria Freire, ou seja: tendo a esperança, a utopia, e a afetação para mudarmos as coisas e lutarmos contra as injustiças; esperança e ação como lados dialéticos e inseparáveis da vida política, de nossa prática.

E agora, mais do que nunca, num momento em que a desesperança e o desespero da maioria da população os brutaliza, os coisifica e os torna intolerante e fundamentalistas, precisamos esperançar mais ainda pois, em caso contrário, daremos a luta por encerrada e vencida. Agora a luta é mais árdua ainda.

Mas a esperança não deve acabar, pois a história não acabou. Não acabou no passado quando foi anunciada muitas vezes, não acabou agora e nem acabará. A esperança é o que fazemos dela, na matemática de nossas derrotas coletivas, de nossas vitórias coletivas, de nossas lutas coletivas.

E isso tudo é o que também costumamos chamar de História!

Esperancemos, camaradas!