Cancelamentos, emparedamentos, neurose e o Deus Mercado

Fulana cancelou tão virulentamente o beltrano, que acabou por ser cancelada, em seguida, pela plateia que se achava a canceladora onipresente e onisciente.

Fulana, ao matar o poluído, acabou manchando sua mão com a nódoa da poluição e precisava também ser oferecida em sacrifício ao templo deste, tão íntimo, Grande Irmão, neste novo religare.

Quem diria que a política de cancelamento, quando fetichizada ao extremo, tornar-se-ia a política do emparedamento midiático?

Na periferia o moleque foi cancelado pela PM.

Apesar dos protestos, a TV cancelou a cobertura sobre o assunto.

E a justiça sequer julgou o tema no paredão.

O sistema não praticou o religare, nem a redenção.

No fundo, o sistema era o cancelador onisciente e onipresente.

Uns o chamavam de Deus e outros, simplesmente, de Mercado.

Seja como for, o sistema só espetaculariza o que lhe convém.

Enquanto isso, na arena, sicrano cancelava beltrano, que cancelou sicrano, que cancelou também fulano, que cancelou sicrano e beltrano, não antes de sicrano o cancelar…

Na plateia, todos gozavam o indisfarçável gozo do perverso, enquanto acusavam uns aos outros de serem o neurótico…  até que o espetáculo acabou por falta de empoderamento.

Até a próxima edição.

O último a cancelar apague a luz, por favor…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *