A polícia e o “Velho da Havan”

O “Velho da Havan” foi autuado por infringir as regras de controle da propagação do coronavírus na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul.

No aeroporto da cidade, sem máscara, cercados por policiais, foi chamado a assinar a autuação, mas teve muito tempo para gravar e transmitir ao vivo o acontecimento; o que é, na verdade, um direito seu [de gravar a ação de agentes públicos].

Mas, apesar de ter esse direito de gravar a ação da polícia, chama a atenção a liberdade que teve para deixar os policiais esperando vários e vários minutos enquanto gesticula e falava livremente olhando para as “câmaras”.

Parecia que estava em seu próprio reality show e a PM seguia todas as ordens do “apresentador” do programa:

– Ele dava as costas para os policiais, falava com as câmeras, girava pra lá e pra cá, ria e fazia chacota da ação policial, respondia aos “telespectadores” aparentemente ao vivo, falava minutos seguidos enquanto os PMs esperavam sua assinatura com os papeis na mão. O “Velho” chegou até a colocar o dedo em riste no roto de um dos policiais.

Os PMs só faltaram falar “Seu Dotô, assina aqui por favor”!

Que polícia “paciente”, não é!

Mas atenção: se você for pobre, preto, indígena e periférico não repita isso em sua quebrada. Esse tipo de docilidade e subserviência a polícia só tem com “Velhos da Havan” ou moradores de condomínios de luxo!

Na periferia é policial pobre contra população pobre, ambos vitimados pelo mesmo sistema que os brutaliza e os mata!

Enquanto ao “Velho da Havan”, não se preocupem, na mesma hora ele voltou pra sua casa em total segurança e conforto… em seu jatinho particular!

PS. 1: Aqui não se trata de defender que a polícia agisse com violência ou reprimisse os direitos de qualquer cidadão (incluindo aí o sujeito abjeto conhecido por “Velho da Havan”). Trata-se de uma constatação obvia, uma denúncia, de que em sociedades de classes, na qual o Estado representa os interesses dos poderosos, a polícia tende a agir de forma subserviente a esses mesmos poderosos. Diferente da forma que age frente à população marginalizada, que tem cotidianamente seus direitos desrespeitados e é vítima da violência física das forças repressivas do Estado.

PS. 2: Importante reconhecer e denunciar que os policiais, sobretudo os policiais de baixa patente, são também vítimas desse sistema. Despreparados e mal pagos, humilhados por uma elite militar formada quase sempre por pessoas de classes “superiores”, moradores da periferia, jogados como bucha de canhão na “guerra às drogas” e brutalizados por uma ideologia punitivista, acabam, sem o perceber, sendo os “capitães do mato” que fazem o serviço de controle dos pobres e extermínio dos que não se conformam.

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