Sobre a rebelião das mulheres do PT e a questão da paridade de gênero nas eleições.

I

A legítima rebelião das mulheres do PT (e também não petistas) contra a escolha de uma chapa para prefeitura de Belém formada apenas por homens na coligação de esquerda veio colocar pólvora sobre o tema que se encontrava latente.

As mulheres não aceitam que os argumentos da “estratégia política” e da “não crítica aberta” (para não prejudicar a campanha) sejam utilizados num tema que deveria ter sido superado a muito tempo: o fato óbvio de que uma chapa de esquerda, que se propõe ser de fato democrática e transformadora, deveria dar o exemplo (muitos exemplos na verdade), a começar pelo exemplo da paridade de gênero nas candidaturas.

Desde a consolidação da chapa, sem a presença feminina, inúmeros comentários dispersos têm surgido nas redes sociais e agora um vídeo com militantes mulheres petistas veio à baila: exigindo a paridade.

Compartilho com todos e todas o vídeo para que o debate provocado por essas mulheres seja ampliado. Concordando com elas, considero que é dever de todos os cidadãos e cidadãs que desejam uma cidade mais justa e democrática fazerem a reflexão sobre esse tema. Considero ainda que esse debate inaugura o 1º Turno da eleição que se aproxima, não podemos não participar dessa discussão.

Digo mais: abre-se um importante espaço para que um debate de democracia direta seja realizado agora, tendo esse tema como um motivador imediato. A candidatura de Edmilson Rodrigues, o Psol, o PT e os candidatos a vereadores/as devem se posicionar sobre essa questão, pois ela não é uma questão marginal ou menor, como bem colocam todas as mulheres do vídeo. Acompanho a fala dessas mulheres, por isso compartilho e apoio suas posições!

Por último, digo que é dever dos/das intelectuais, homens e mulheres, se manifestarem e cobrarem posições da chapa sobre esse tema. Sobretudo aqueles que cotidianamente amplificam de seus espaços de reflexão o tema do feminismo, nas universidades, nos cursos on-line, nos blogs e que participaram e compartilharam os atos de rua protagonizados pelas mulheres nos últimos anos.

A melhor reflexão é a prática. E a prática é agora!

Minha posição é: todo apoio à rebelião das mulheres do PT!

Texto originalmente publicado no facebook, aqui.

NÓS MULHERES PETISTAS NÃO NOS CALAMOS!!!#NãoMeCalo#nãomecalo

Publicado por Telma Saraiva em Quarta-feira, 16 de setembro de 2020

II

Nós, individual e coletivamente, temos responsabilidade com as demandas de nosso tempo histórico. O tempo, o espírito do tempo, a materialidade do tempo (em termos “materialistas” propriamente ditos), o sopro da mudança, assim o exigem.

Não por existir uma entidade metafísica ou cósmica chamada “tempo”, onisciente e onipresente, que está preocupada com o que pensamos e agimos individual e coletivamente, mas apenas porque em certas épocas existe uma vontade imperiosa de mudança, carregada pelas estruturas de sentimento daquilo que é o mais avançado do que dispomos enquanto projeto civilizatório coletivo.

Essa é a “vanguarda” como mentalidade, sensibilidade e práxis de cada geração. O melhor que possuímos como projeto de humanidade, mesmo que, inclusive, não se efetive como tal e seja derrubado, mais cedo ou mais tarde, pelo conservadorismo de sempre.

Hoje o feminismo é parte essencial dessa “vanguarda”, em suas vertentes variadas e complexas. Compõe um elemento central dessa vanguarda de aspirações civilizatórias superiores.

Daí que partidos políticos, pessoas, organizações, entidades, movimentos que não buscam incorporar lições mínimas expressas nas demandas do feminismo, tais como a “paridade de gênero” em qualquer proposta política coletiva, estão nadando contra a maré dos tempos.

O dever de casa é nossa obrigação coletiva e necessária; pois da direita e dos fascistas não esperamos sequer um “bom dia”!

PS. 1: Não falo pelas mulheres por motivos óbvios (sendo redundante), falo por mim apenas, opinando sobre um tema geral da eleição de Belém do Pará. Trata-se aqui apenas de acompanhar a posição legítima já colocada por muitas mulheres sobre esse tema. Sendo “pró”, sabendo de minha posição de apoio e não de “vanguarda” sobre esse assunto.

PS. 2: Também não se trata do nome A ou B. Edilson Moura é um quadro importante, educador de longa trajetória, homem negro, com experiência política, intelectual, advindo das lutas comunitárias, honesto, íntegro e merece todo nosso respeito e apoio. Mas me parece que o tema aqui é o da necessidade de acompanharmos o tempo histórico e a justiça. A presença de uma mulher seria a coisa certa a se fazer! Sem mais… mas também sem menos!

Uma resposta para “Sobre a rebelião das mulheres do PT e a questão da paridade de gênero nas eleições.”

  1. De fato meu caro, o tema é por demais importante, nesses tempos de erros, a esquerda não pode se permitir , e a direita? também não. Vamos repensar e corrigir, desigual que fique só os dedos da mão.

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